Wednesday, February 21, 2007

O Solo "Romanizado" - sucintas considerações

A função de um historiador é, em muitos casos, ler documentos com a paisagem ausente.
Com o afinar das metodologias de aproximação ao fazer história, inaugurou-se uma necessidade de conceder o privilégio da imagem à consistência do texto.
No conjunto do trabalho que se tem vindo a desenvolver no espaço do concelho de Évora, em particular num contexto de prospecção arqueológica, ressalta-se a riqueza do espaço e a forma como diferentes momentos históricos se articularam numa lógica de continuidade, ainda que obedecendo a matizes diferenciados.
Com a feitura de uma base cartográfica, a partir dos trabalhos de Manuel Calado, João Santos e Mário Carvalho, conseguimos visualizar a dinâmica da ocupação do solo, permitindo o estudo da lógica ocupacional com base nas capacidades geo-morfológicas do território.
Em Évora, subentendendo a relativa fertilidade da sua área envolvente e, acima de tudo, a sua localização estratégica, é possível encará-la como zona de precoce instalação de emigrantes romanos, dedução que as placas epigrafadas (datadas do séc. I a.C.) descobertas na região parecem comprovar.
Com as guerras de Sertório, que alteraram as relações de clientela entre autóctones e ocupantes, e a emigração das elites de Roma para territórios onde as conturbações sociais se faziam sentir com menos intensidade, todo o fenómeno de aculturação parece ter sofrido uma alteração qualitativa que interessa destacar.
O carácter de assimilação dos hábitos romanos ter-se-á feito sentir, com maior profundidade, a partir da guerra civil de Sertório que, com a instauração de alianças locais e recrutamento de tropas, na sua grande maioria, entre os indígenas, acelerou o processo romanizador. A sua política de relacionamento foi mesmo perpetuada pelos posteriores governadores e representantes de Roma em solo hispânico, reflectindo uma alteração de comportamento, quer da parte do ocupante, quer do ocupado.
Com a sedimentação de uma classe de elite, por volta da primeira metade do séc. I a.C., outro tipo de contactos, de cariz político, são implementados, em conjunção com os já existentes. Serão estes contactos que, a posteriori e em parte, irão contribuir para a municipalização de Évora.
Todo o conjunto do território envolvente acompanhou este crescendo de ocupação, revelando-se através dos cerca de 400 sítios cronologicamente datados dos séculos I a.C - III d.C., que pontuam o actual concelho de Évora.


Villa da Herdade da Abóboda, Concelho de Évora



Cartografia geo-referenciada dos sítios com ocupação humana no Concelho de Évora.Cronologia: Calcolítico à Idade Média. Dados: Manuel Calado, João Santos, Mário Carvalho

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