Friday, November 30, 2007

Prospecção


Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.

Miguel Torga, Prospecção


Thursday, November 29, 2007

A equipa à volta da covinha!

A equipa da CARMO reuniu-se para ouvir o Dr. Emmanuel Mens, na sua explicação de como se marca a pedra.

Numa primeira abordagem ao tema, o Dr. Emmanuel Mens explicou-nos a percussão directa/indirecta, e as alterações evidentes na pedra resultantes da sua percussão. Como exemplo, se foi "construindo" um báculo.



Antes e depois (mãos de Emmanuel Mens)... o báculo


A covinha foi o resultado dum esforço colectivo, todos participaram. Talvez em tempos terá sido este um cenário possível, a comunidade reunida numa espécie de passagem colectiva. Um elemento que marcaria a passagem do tempo e dos seus membros porque embora sendo um esforço colectivo, cada um marcou a pedra à sua maneira.


O começo da covinha... mãos de Manuel Calado

mãos do Duarte

mãos da Filipa

mãos da Sara

mãos da Inês

mãos da Anaísa

mãos do Ivo

e o seu fim... mãos de Leonor Rocha



A covinha...



Nessa tarde ecoaram em Mora, os sons do passado…

Wednesday, September 19, 2007

As múmias mais antigas do Mundo (Arica, XV región, Chile)

As múmias Chinchoro (Arica Chile) representam provavelmente a mumificação artificial mais antiga do Mundo; efectuadas hà mais de 7 mil, representado um avanço de praticamente 2 mil anos em relação à técnica egípcia. Não obstante, a cultura de Chinchoro (que terá previvido aproximadamente 3 mil anos), não apresentava um desenvolvimento cultural equiparável à civilização do Nilo, travavam-se de pequenos grupos de caçadores, semi-nómadas, com uma cultura artefactual bastante primitiva (à base de indústria lítica) e que habitariam em cabanas de madeira. Contudo, o ritual da morte deveria ter um profundo impacto nesta sociedade já que a mumificação abarcava toda a sociedade (mulheres, crianças, chefes, gente comum). Sabemos ainda que muitas destas múmias sofreram processos de ritualização post mortem, sendo desenterradas e enterradas noutro local.
O processo de conservação dos corpos era realizado através de um procedimento cirúrgico que substituía as partes moles do cadáver - nomeadamente os órgãos - por ramos, matéria vegetal, posteriormente o corpo era coberto com argila. Factores que, em conjunto com o clima seco do deserto atacamenho, contribuíram para esta magnifica preservação.


A visitar no Museo Chileno de Arte Precolombino e no Museo Arqueologíco de Arica.

Tuesday, July 24, 2007

Antas e menires do concelho de Montemor-o-Novo

A manhã do passado dia 26 de Maio foi ocasião de uma visita a alguns monumentos megalíticos do concelho de Montemor-o-Novo. Promovida pela câmara municipal e orientada por Manuel Calado, a iniciativa levou os participantes a conhecer a anta capela de Nossa Senhora do Livramento e alguns monumentos do conjunto megalítico do Tojal.







Anta capela de Nossa Senhora do Livramento - exemplo notável de um espaço sagrado pré-histórico reutilizado e adaptado a um sistema de crenças radicalmente distinto do original, neste caso o Cristianismo.







Menir do Tojal, com covinhas na superfície da extremidade superior.








Cromeleque do Tojal, constituído por 17 menires tombados.




Anta em que a mamoa se encontra excepcionalmente bem conservada.






Anta com sepultura proto-megalítica nas suas proximidades.



Sunday, July 8, 2007

Caderno de campo - Sesimbra 07

Para muitos o Verão significa tempo de praia, mas para os arqueólogos significa o frenesim das escavações e prospecções. Acontece, por vezes ter a possibilidade de coexistirem estes dois elementos.

Sesimbra marca as actividades arqueológicas pelo o seu sabor e cheiro a mar (a sua linha costeira prolonga-se, desde a Lagoa de Albufeira até à Serra da Arrábida). A primeira semana de prospecções em Sesimbra caracterizou-se, por um reconhecimento de sítios já identificados mas também de sítios ditos "desérticos".

1º dia em Sesimbra


Os neolíticos andam aí! na Fonte de Sesimbra (povoado neolítico).


Subindo o Cabeço da Faúlha!


A inexistência de materiais no topo pode ser justificada pelas condições adversas aí encontradas, nomeadamente ventos fortes dificultariam a instalação de comunidades.


Observando a mudança forçada da paisagem!


Serra dos Pinheirinhos: ao longo da costa existem conjuntos de grutas e lapas de interesse arqueológico.


Duas vidas marcadas pelo saber!

Depois de um dia de prospecções um passeio pela praia, sabe sempre bem!


Sesimbra vista da praia!


Quem diria!?tens areia na t-shirt!


Representações megalíticas em Sesimbra!

Novos elementos da Herdade do Barrocal

Durante um passeio matinal podemos encontrar de tudo! Inclusive uma possível sepultura proto-megalítica.


Estrutura com possíveis perturbações


Sepultura constítuida por lajes de granito, aparentemente em forma de cista

Perto desta estrutura encontramos uma laje de xisto de tamanho considerável (na área perto da anta e desta estrutura encontramos também fragmentos de xisto, possivelmente de um tholos).


Laje de xisto

Também se identificou perto da Aldeia das Cegonhas, um novo conjunto de covinhas.




Esta situa-se um pouco mais afastada das anteriores

Saturday, June 9, 2007

Salvem o Porro, Porra! Parte II (infelizmente)


Manuel Calado, já há vários meses, tinha alertado para o facto de os novos avanços da pedreira do Monte das Flores (Évora) se dirigirem perigosamente na direcção do povoado Neolítico do Porro.

Desde essa altura, e apesar dos responsáveis pela pedreira terem sido avisados pelo I.P.A., os trabalhos voltaram a avançar, encontrando-se agora a nova frente de exploração a escassas dezenas de metros do conjunto de arte rupestre e do interior do povoado. Foram identificados materiais Neolíticos nas terras recentemente removidas, bem como estratigrafias arqueológicas em corte.

Esperemos que uma solução sensata seja encontrada quanto a esta situação, uma vez que falamos de um sítio arqueológico, de primeira água no concelho de Évora, cuja perda seria inestimável para o património concelhio. Que as entidades com responsabilidades nesta matéria não ajam com brandura, em relação a casos como este, e que se faça cumprir a lei.
Um programa de sondagens para breve é o mínimo que esperamos.

Continuaremos a dizer: "salvem o Porro, Porra!"
(pelo menos, enquanto ele existir...).



O afloramento do Porro.

Aspecto dos trabalhos em Janeiro de 2007

Área afectada, até ao momento.

As imagens ilustram a proximidade a que os trabalhos se encontram do grande afloramento granítico do Porro (já dentro do povoado): a nova frente de exploração da pedreira, à esquerda, e o rochedo do Porro, à direita..
As estratigrafias Neolíticas foram já cortadas, algures mais abaixo, depois da "montanha" de terra...

Habitante local, que por enquanto ainda se pode abrigar debaixo do rochedo do Porro.

Friday, June 8, 2007

Os pukaras - megalitismo andino

Pukara de Lasana

Pukara de Quitor

Oásis de São Pedro de Atacama

A poucos dias da minha partida para o Chile vem-me à memória a imagem dos pukaras que vi o ano passado no deserto de Atacama. O termo pukara significa forte o fortificação em quechua, e estão relacionados sobretudo[1] com povoados fortificados que surgem em finais do século XI da nossa era, fruto da desagregação do império Tiwanaku nos Andes e do consequente aparecimento de poderes locais independentes e que persistem com remodelações durante o império inca a partir do século XIII-XIV . Os pukaras incas entenderam-se desde o Ecuador ao Norte do Chile, ocupando excelentes locais, com boas defesas naturais e boa visibilidade do meio. No deserto do Chile os povoadores para além das anteriores preocupações defensivas viram-se obrigados a incluir outro factor – o do aceso e proximidade a cursos de água; raros neste deserto andino. Os pukaras do deserto estão espalhados desde Arica, na fronteira com o Peru, ao Sul de Antofagasta (III região), construídos para travar a expansão aymara. Estas fortificações apresentam uma arquitectura semelhante à dos nossos castros, com ruas estreitas, casas de planta rectangular e circular cobertas com barro ou colmo, defendidas por uma ou duas linhas de muralhas e com torres adossadas. As pedras não eram trabalhadas e encaixadas umas nas outras, tal como se conhece no estilo inca, mas sim colocadas e possivelmente argamassasadas rudimentarmente, ao estilo dos povoados fortificados calcolíticos, os murros apresentam ainda algumas saliências para seteiras, e a construção é organizada por plataformas em escada (tipo courelas). Não tinham uma dimensão considerável, alguns povoados ocupariam dois hectares outros podiam chegar a atingir quatro comportando um valor estimado de trezentos habitantes. Os pukaras mais conhecidos desta cultura atacamenha são: o de Quitor, no (São Pedro de Atacama); o de Lasana (Calama) e o de Turi (Calama).
Para mais informações ver Museu Precolombino de Santiago: http://www.precolombino.cl/


[1] Digo sobretudo, porque existe uma cultura com o mesmo nome na região Centro-Sul do Peru com o mesmo nome, cultura essa que data do século III a.C.