Saturday, February 24, 2007

Citações II

(...) "Fui talvez parar longe, em busca de uns sinais, de uns indícios, que me permitissem entrar na pintura de Armando Alves. É que me parece que se não nasce impunemente no Alentejo, e menos ainda quem um dia se descobre pintor. Que relação há entre a sua pintura e a terra em que acabo de me debruçar? E haverá relação? Eu creio que sim. Mais: creio que Armando Alves se descobriu alentejano ao mesmo tempo que se descobria pintor. O amor à pintura confundiu-se nele com o amor ao Alentejo, acabou por ter nele um só nome. Tal aliança o conduz naturalmente (ou se perferem: fatalmente), não à flor das coisas mas ao seu perfume penetrante. O Alentejo entra nos seus quadros, como à noite se entra em casa: para desvendar uma intimidade. É o amigo, o confidente, o ombro onde apoiar a cabeça. É a sua pena, o seu consolo. É uma maneira de falar, um gesto só, um segredo impossivel de guardar. O pintor pode mudar de cidade, trocar de luz, olhar devagar pontes e águas, aperfeiçoar técnicas, experimentar processos, viajar - o Alentejo continuará ali como uma grande, imensa fidelidade, porque ninguem pode mudar de coração, e era do coração que estávamos a falar." (...)

Eugénio de Andrade, Poesia em Verso e Prosa


A cidade de Évora, por Armando Alves


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