Thursday, January 25, 2007

Serra Pedrosa: Um Povoado do Final da Idade do Ferro nos arredores de Évora.

Serra Pedrosa - Encosta Oeste do Povoado da II Idade do Ferro


Agora que o "véu" que cobria as realidades Proto-Históricas de Évoramonte foi levantado, pareceu-me pertinente dar a conhecer uma realida
de bem mais pequena, mas ainda assim relevante. O Serra Pedrosa foi identificado em 2003 por João Santos, Manuel Calado e Mário Carvalho, durante a revisão do PDM da CME.

O povoado dos finais da Idade do Ferro que aqui pretendo dar a conhecer, convida á reflexão sobre os momentos conturbados que os sítios desta época parecem ter conhecido. Sempre altivos na paisagem Alentejana, são impressionantes "miradouros" por natureza e parecem ter escolhido os topos das serranias como lugar de eleição.

A Serra de Monfurado não é excepção a esta realidade. Num dos seus ultimos contrafortes a Sudeste, podemos encontrar um destacado conjunto de relevos, de topónimo "Serra Pedrosa". Este topónimo dá o nome ao sitio arqueológico , que se encontra implantado num dos últimos grandes cabeços, deste conjunto, sobranceiro à ribeira de Valverde

Localização do Serra Pedrosa

O Serra Pedrosa, estende-se ao longo de uma crista alongada, atingindo uma altitude máxima de 341 metros, dominando visualmente toda a extensa peneplanicie que se espraia para Sul e Nascente. A sua implantação adjacente a uma importante zona de transitabilidade natural entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado confere-lhe grande relevância estratégica no controlo da paisagem envolvente. Este importante caminho natural acabou por ficar assinalado pela Via romana de Olisipo a Emerita Augusta, localizada escassos dois quilómetros a Sul.

O sítio encontra-se bastante pertubado devido ao plantio do eucalipto e às destrutivas surribas a ele associadas, tendo estas deixado um verdadeiro “mar de cacos” bastante visível á superfície. Esta realidade afectou, quase por completo, a estratigrafia e possíveis estruturas conservadas. Para além da ocupação da II Idade do Ferro, claramente a mais documentada, existe ainda uma outra, Neolítica.

A ocupação dispersa-se ao longo da crista da elevação, abrangendo vários hectares sem, contudo, se registar qualquer evidência concreta de fortificações.

A ocupação tardia da Idade do Ferro faz-se representar principalmente pela monótona realidade dos bordos extrovertidos de cerâmica a torno, pertencentes a grandes recipientes de armazenamento. Foram também recolhidas asas de rolo, fundos côncavos, planos e em pé de anel; de realçar um fragmento de bordo pertencente a um “Kalathos” de produção aparentemente regional. A decoração cerâmica é rara, constando apenas de motivos incisos, nomeadamente de linha ondulante e uma quebrada, além de um exemplar de cerâmica pintada. Este corresponde a um grande recipiente a torno, de produção aparentemente regional, de bordo exvertido e perfil em “S”, pintado com tinta vermelha violácea. A decoração consiste numa série de bandas, que intercalam sequências de quartos de círculos concêntricos, com fortes conotações ibéricas.


Peça pintada - Serra Pedrosa

Para além da componente cerâmica registou-se ainda a presença de pedras de amolar, um fragmento de mó manual circular e uma enxó de ferro.
Perante este conjunto artefactual, relativamente coerente, podemos enquadrar cronologicamente a ocupação num momento impreciso do séc. II a.C.

O sítio da Serra Pedrosa encontra-se nas imediações de dois sítios relativamente conhecidos da proto-história da região de Évora, o Castelo do Giraldo, a 1km para NW, ficando o Coroa do Frade a cerca de 2km a Norte.

Convido á visita deste povoado, cuja visibilidade da envolvente permite alcançar horizontes dignos de contemplação, e que certamente serão úteis na reflexão relativa ao sitio e ás realidades que este viveu.

Vista da envolvente Sudeste, a partir de um dos acessos ao povoado da Idade do Ferro