Thursday, March 15, 2007

Megalitismo Alentejano Contemporâneo e Megalitismo Natural, em S.Caetano (Évora)


A cerca de 700 metros para Oeste do povoado pré-histórico de S. Caetano, num dos pontos chave das paisagens megalíticas alentejanas, é possível observar aquilo que localmente de designa como "marouços" (amontoados de pedra, resultantes de trabalhos de despedrega dos campos agricolas, que nesta região ocorreram em grande força, durante os meados do séc. XX), mas em escala monumental. Estes enormes "marouços", foram cuidadosamente empilhados e assemelham-se, em alguns pontos, a verdadeiras cinturas de muralha e a grandes bastiões de granito.
Esta realidade surge, aqui, nas imediações de um destacado afloramento de granito, onde a natureza escavou um abrigo, no qual foi possivel identificar alguns fragmentos de cerâmica manual.

Wednesday, March 14, 2007

Megalitismo Natural Andaluz : "a cabeça do Gigante"

(Fotografias de Rui Mataloto)

A partir do conjunto megalítico de Antequera (Menga e Viera), é possível observar, de uma posição privilegiada, aquela que é localmente designada como " a cabeça do gigante ". Esta figura antropomórfica, escavada pela natureza no substrato geológico de um destacado cabeço, ilustra mais um capitulo de " the hidden faces of stones", mas desta vez em escala "gigantesca".

Monday, March 12, 2007

Citações III

(...) "We have difficulty with this term "monument", and our difficulties are worth some thought. The dictionary definition is, rather neat: "anything enduring that serves to commemorate". Its root is even more revealing, for it comes from the Latin "monere", to remind. Monuments are about memory: they join the past to the present.

But that is not the way in which archaeologists have used the term. Monuments are also items of information. Thus we have Sites and Monument Records, and, by extension, we have the prehistorian's idea of the monumental as something outrageous and massive which flouts the Principle of Least Effort (Trigger, 1990).

So monuments evoke memory. Personal memories, no doubt, but to echo the title of Paul Connerton's book, how do societies remember (Connerton, 1989; cf Melion and Kiichler, 1991)? One of the main ways in which they do so is through rituals. Among other things, ritual is a specialised kind of communication, and it is one that can embody a different sense of time from everyday affairs.

In ritual the past reaches right into the present, and the two cannot be separated. It is a source of timeless propositions about the world, of eternal verities whose authority is guarded by specialised methods of communication." (...)


Richard Bradley, Altering the Earth, 1992


"Altering the earth", in Central Alentejo, with "specialised methods of communication" (Almendres, Évora)

Thursday, March 8, 2007

Entre a Anta Grande do Zambujeiro e a Necrópole de Vale de Rodrigo: paisagem e povoamento no IV e III milénios a.C.


A aldeia de Valverde, a Oeste da cidade de Évora, encontra-se inserida numa paisagem marcada pela interface topográfica entre os últimos cabeços destacados da
Serra de Montemuro e as férteis peneplanícies adjacentes, que se espraiam para Sul e para Nascente.

Esta realidade topográfica confere aos últimos relevos da Serra de Montemuro não só um acesso previlegiado a bons solos agrícolas, mas também um domínio visual sobre vastas áreas de planície, apenas interrompido por acidentes geográficos, de primeira importância na região, como a Serra d'Ossa, a Serra de Portel ou a Serra do Mendro.

Este conjunto de relevos, que domina visualmente toda uma zona de transitabilidade natural entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado, alberga sítios como o Castelo do Giraldo, de onde os horizontes permitem vislumbrar uma grande parte das vastas peneplanícies que integram o território centro Alentejano.

A paisagem arqueológica, neste interface Serra\Planície, é pontuada pelo elevado número de monumentos megalíticos e de povoados pré e proto históricos, nos quais o Neolítico Final\Calcolítico parece enquadrar cronologicamente a maioria.

A Anta Grande do Zambujeiro e o complexo de Vale de Rodrigo, monumentos incontornáveis no panorama do megalitismo funerário na Península Ibérica, estão situados no suave sopé destes cabeços, a escassos quilómetros de distância um do outro; o caminho natural entre ambos atravessa aquela que agora parece ser uma das áreas com maior densidade de povoamento durante este período (IV\III milénio a.C.), no concelho de Évora.

Pretende-se aqui apenas dar a conhecer a distribuição geográfica desta realidade, uma vez que recentes trabalhos de campo permitiram identificar novos povoados e pequenos núcleos de habitat, tanto nos últimos cabeços da Serra de Montemuro, como nas planícies para Sul e Este, permitindo esboçar uma nova imagem, mais completa, do povoamento durante o IV e o III milénios a.C., nesta região.



Cartografia 1:25.000 (C.M.P., folha nº 459) do povoamento no IV e III milénios a.C., na envolvente da Anta Grande do Zambujeiro e do complexo de Vale de Rodrigo, no concelho de Évora.


Pormenor de uma das zonas com maior densidade de ocupação nesta área (Cabanas\Serra\Fontainhas), onde uma grande parte da paisagem arqueológica se encontra completamente destruída, devido ao plantio desregrado do eucalipto


A vista do Castelo do Giraldo, sobre a envolvente Oriental, com uma relação visual privilegiada sobre a Anta Grande do Zambujeiro


A vista a partir do povoado Serra 1, sobre a planicie a Sul, onde se localiza a necrópole de Vale de Rodrigo


Vista sobre o conjunto de relevos da serra de Montemuro. Na extermidade Sul (lado esquerdo na imagem), encontram-se implantados os monumentos e povoados, aqui referidos


Wednesday, March 7, 2007

Um silêncio arqueológico

Serve o presente estado da arqueologia eborense um sintoma de uma certa estagnação face a novas descobertas, sua divulgação e enquadramento num âmbito histórico-arqueológico-turístico.
Louvamos, necessariamente, iniciativas tecnológicas como os blogs, onde são criados espaços de discussão virtual e, simultaneamente, "propagandísticos" de trabalhos de coerência indiscutível, mas que, por força de inevitáveis circunstâncias, permanecem obscuros para o grande público.
Neste panorama, este post não serve para trazer novas informações à luz da discussão virtual, mas sim para alertar que, e mesmo subentendo a enorme extensão do trabalho de prospecção já realizado no concelho eborense, mantêm-se um quadro de interrogações que interessam directamente à situação actual do território.
À riqueza megalítica e pré-romana do território contrapõe-se um vazio de vestígios datados da Primeira Idade Média (séc. IV/V d.C.-séc. XI), situação que nos surge como enigmática, quando confrontada com a persistência toponímica de vários locais (Alcalainha, Alcanede, Vale de Moura, Algraveos, Almoinha são alguns exemplos que podemos apontar), bem como a continuidade de modelos arquitectónicos islâmicos, patentes nas famosas kubbas alentejanas.
Interessa, portanto, ter em consideração que "escutar" este «silêncio arqueológico» poderá ser decisivo para a compreensão de uma parcela da história directamente relacionada com o percurso do Alentejo a partir do século VIII e, com particular impacto, a partir do século X.
Um primeiro ponto será, porventura, conceder um espaço físico ao território muçulmano de Yabura, decalcado do territorium de Liberalitas Iulia. Os passos seguintes estão em relação com o tempo, a vontade...e a paciência.

Fig. 1: Tentativa de Reconstituição do Territorium de Liberalitas Iulia