A aldeia de Valverde, a Oeste da cidade de Évora, encontra-se inserida numa paisagem marcada pela interface topográfica entre os últimos cabeços destacados da Serra de Montemuro e as férteis peneplanícies adjacentes, que se espraiam para Sul e para Nascente.
Esta realidade topográfica confere aos últimos relevos da Serra de Montemuro não só um acesso previlegiado a bons solos agrícolas, mas também um domínio visual sobre vastas áreas de planície, apenas interrompido por acidentes geográficos, de primeira importância na região, como a Serra d'Ossa, a Serra de Portel ou a Serra do Mendro.
Este conjunto de relevos, que domina visualmente toda uma zona de transitabilidade natural entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado, alberga sítios como o Castelo do Giraldo, de onde os horizontes permitem vislumbrar uma grande parte das vastas peneplanícies que integram o território centro Alentejano.
A paisagem arqueológica, neste interface Serra\Planície, é pontuada pelo elevado número de monumentos megalíticos e de povoados pré e proto históricos, nos quais o Neolítico Final\Calcolítico parece enquadrar cronologicamente a maioria.
A Anta Grande do Zambujeiro e o complexo de Vale de Rodrigo, monumentos incontornáveis no panorama do megalitismo funerário na Península Ibérica, estão situados no suave sopé destes cabeços, a escassos quilómetros de distância um do outro; o caminho natural entre ambos atravessa aquela que agora parece ser uma das áreas com maior densidade de povoamento durante este período (IV\III milénio a.C.), no concelho de Évora.
Pretende-se aqui apenas dar a conhecer a distribuição geográfica desta realidade, uma vez que recentes trabalhos de campo permitiram identificar novos povoados e pequenos núcleos de habitat, tanto nos últimos cabeços da Serra de Montemuro, como nas planícies para Sul e Este, permitindo esboçar uma nova imagem, mais completa, do povoamento durante o IV e o III milénios a.C., nesta região.
A vista a partir do povoado Serra 1, sobre a planicie a Sul, onde se localiza a necrópole de Vale de Rodrigo
Vista sobre o conjunto de relevos da serra de Montemuro. Na extermidade Sul (lado esquerdo na imagem), encontram-se implantados os monumentos e povoados, aqui referidos
3 comments:
Balizar o nosso espaço de trabalho é sempre criar, ou tentar recriar, limites artificiais de um território unitário na sua diversidade. Creio que o importante é sempre termos claro os limites do que nos propomos fazer, e criar alguma coerência nos critérios seleccionados. Utilizar a geografia é sempre tão articial como seguir limites políticos actuais. Se as bacias hidrográficas criam áreas coerentes, as suas cabeceiras são sempre territórios específicos com vivências próprias, como Manuel Calado de há muito vem assinalando para os festos do nosso Alentejo Central. Os cursos dos rios constituem desde sempre pontos de concentração do povoamento gerados pela disponibilidade de água, sempre tão escassa no terriotório que trabalhamos.
A paisagem talvez seja o contexto arqueológico mais complexo de discernir e isolar pela sua fugacidade no tempo, e imaterialidade no espaço.
Deste modo, a coerência geográfica deste conjunto de trabalhos é inquestionável por fazer-se enquadrar entre dois marcos monumentais, por vezes bem discretos, das paisagens megalíticas alentejanas. Todavia, porquê ler o espaço dos vivos apenas nas imediações dos mortos? É certo que estes monumentos diriam mais dos vivos do seu tempo que dos próprios mortos, mas em que medida acompanharam estas comunidades? Em que medida são o resultado da sua vivência? Deste modo, vejo mais este território, no sentido espacial e não político, como a envolvente do Castelo do Giraldo, pelos que o antecederam e a ele deram origem, pelos que o acompanharam e partilharam o território, e pelos que remanesceram depois de decair, talvez já dentro do IIº milénio a.C.
Assim, serão os monumentos megalíticos o centro ou a periferia da vivência territorial das comunidades que os erigiram?
Todas as tuas perguntas são extremamente pertinentes, e eu também gostaria de saber respostas para elas. Infelizmente, a inexistência (ou quase) de publicações acerca das escavações em ambos os monumentos em questão, e o facto não haverem povoados do IV e III milénios escavados e publicados (exceptuando o Castelo do Giraldo, com as evidentes limitações na leitura e registo estratigráfico)na sua envolvente, dificultam em muito a árdua, mas estimulante, tarefa de procurar respostas a essas questões.
Creio que apenas futuras escavações e respectivas publicações, poderão fornecer dados sólidos, que permitam finalmente começar a compreender de que forma estes monumentos estavam articulados com os diferentes modelos de povoamento, que os acompanharam ao longo dos milénios.
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